Em OFF com Marcella Leite
Nos bastidores da dança e do espetáculo, existe um ofício pouco visto, mas essencial: o de garantir que a magia do palco aconteça sem que o público perceba o peso da engrenagem por trás dele. É nesse lugar que atua Marcella Leite, Arts and Stage Manager, uma profissional que transita entre a criação artística e a organização técnica, equilibrando sensibilidade e estrutura.
O que é ser Arts and Stage Manager
Para Marcella, o papel desse profissional é viver em dois mundos ao mesmo tempo: o da arte e o da gestão.
“É alguém que garante que a visão artística se concretize e, ao mesmo tempo, cuida de tudo nos bastidores — logística, orçamento, cronogramas e relações com as equipes. É uma ponte entre a ideia e a realidade.”
Esse trabalho exige fluência em duas linguagens distintas: compreender artistas, técnicos, coreógrafos e figurinistas, mas também dominar planilhas, contratos e estratégias. É um ofício que só faz sentido quando esses dois lados dialogam em equilíbrio.
A arte precisa de alma e corpo
Na visão de Marcella, a sensibilidade artística e a habilidade de gestão não competem, mas se completam.
“A sensibilidade é a alma do espetáculo; a gestão é o corpo. Sem alma, pode até ser eficiente, mas vazio. Sem corpo, simplesmente não acontece.”
Projetos potentes, segundo ela, nascem justamente dessa fusão — quando a produção respeita a arte e a arte confia na estrutura. Nesse processo, ouvir uma coreógrafa e um técnico de palco com a mesma atenção é essencial. Afinal, todos estão construindo juntos.
O desafio de formar público no Brasil
Se equilibrar bastidores já é um desafio, formar público para a arte no Brasil é ainda maior. Para Marcella, a falta de continuidade na educação artística é um dos principais obstáculos.
“As pessoas não valorizam o que não conhecem. O acesso à arte ainda é muito restrito. E hoje, além disso, disputamos espaço com o entretenimento digital.”
Esse novo cenário exige repensar estratégias de comunicação e engajamento, encontrar formas de dialogar com o público sem abrir mão da profundidade.
Com sua escuta apurada e visão de conjunto, Marcella Leite lembra que a arte só floresce quando encontra pontes sólidas entre criação e estrutura. O palco pode ser o lugar da magia, mas são os bastidores que sustentam o espetáculo.