Pergunta: Fale sobre a sua conquista de dançar nas pontas numa Cia de dança profissional.
R: Eu entrei no balé por causa das sapatilhas de pontas. Comecei a elaborar estratégias para tentar dançar em companhias que pudessem aceitar meu corpo e minha arte. Foi durante a pandemia de Covid-19 que comprei uma sapatilha lisse (Evidence) para seguir os estudos online com o projeto internacional Males on Pointe, onde tive o privilégio de ter contato com grandes artistas que dançavam no Les Ballets Trockadero, Ballet de l’Opéra de Lyon e Ballet 22.
Foi através desses artistas que consegui ter garra e determinação para fazer história e diferença no meu país. Comecei a me inscrever em audições para elencos femininos em busca de oportunidades para dançar nas pontas e consegui ser aprovada na Intuição Cia de Dança, onde fui muito bem acolhida por todos!
Não foi nada fácil; pelo contrário, eu tive que falar muito e resistir ainda mais para conquistar lugares de respeito. A dança no Brasil ainda é algo muito binário e cisgênero, dando oportunidades principalmente para pessoas brancas. Até mesmo as marcas de balé, em geral, sempre expõem mais mulheres e homens brancos do que negros. E quando se fala em pessoas trans, não há nenhuma travesti, trans não-binária ou trans masculinos que tenha recebido apoio e visibilidade, já que a sociedade tenta nos calar. Nós moramos no país que mais mata pessoas trans no mundo! Portanto, conseguir ser a primeira trans a dançar nas pontas foi algo extremamente grandioso para servir de exemplo para muitas pessoas que lutam para estar nesses lugares.
Pergunta: Explica pra gente o que é Ballroom.
R: A cultura ballroom é uma expressão e um movimento político da cultura e entretenimento da comunidade LGBTQIAPN+, preta e latina, que nasceu na periferia do Harlem, em Nova York, na década de 1960, visando fortalecer a diversidade de sexualidade, gênero e raça. Ela gera espaços acolhedores para corpos que eram excluídos da sociedade. Com o tempo, a cultura ballroom se tornou um sinônimo de luta pela diversidade e resistência no Brasil. Com certeza, esse foi um movimento essencial para o fortalecimento da pauta LGBTQIAPN+ na grande mídia.
A ballroom é o que eu sou e o que meu corpo expressa. Foi através da ballroom que eu consegui obter o CUNT (Charisma/Carisma, Uniqueness/Singularidade, Nerve/Coragem e Talent/Talento) para lutar com minhas forças e mostrar o que tenho de melhor em cena.
Pergunta: Ser Multiartista. Como é a gestão e a relação das artes que você pratica e trabalha.
Eu sempre fui uma criança muito inquieta e criativa, com uma inclinação natural para a arte. Busco equilibrar meus projetos artísticos com a dança, mesmo sabendo que conciliar essas áreas pode ser desafiador, especialmente quando se trabalha em uma companhia profissional. Para lidar com isso, dedico meu tempo livre a performances na cena underground de São Paulo e também atuo como educadora, ministrando aulas que complementam minha carreira na dança. Além disso, trabalho com moda, o que exige uma boa gestão da minha agenda para garantir que todas as responsabilidades sejam atendidas.
Organizo-me anotando datas e horários importantes, o que me ajuda a manter o controle das demandas e a cumprir com tudo que preciso fazer. Acho que minha natureza curiosa e energética, típica de geminianos, me impulsiona a buscar múltiplos interesses ao mesmo tempo. Embora seja exaustivo, esse ritmo é o que me motiva e me dá energia para seguir em frente.