Com uma carreira que transita entre a criação e a organização, Marcella Leite é um dos nomes que atuam nos bastidores para que o espetáculo aconteça. Arts and Stage Manager, ela compartilha sua visão sobre o equilíbrio entre sensibilidade e estrutura, o papel desse profissional nos bastidores e os desafios de formar público para a arte no Brasil.
1 – O que é um Arts and Stage Manager?
Marcella Leite:
Quando falamos em Arts and Stage Manager, estamos nos referindo a um profissional que vive entre dois mundos: o da arte e o da gestão. Ele é responsável tanto por garantir que a visão artística de um espetáculo se concretize, quanto por cuidar de todos os bastidores — da logística ao orçamento, do cronograma ao relacionamento com as equipes. É alguém que tem um pé na criação e outro na organização.
Esse profissional precisa compreender a linguagem dos artistas, dialogar com técnicos, saber interpretar uma luz, um figurino, um movimento — e, ao mesmo tempo, dominar planilhas, contratos e estratégias. É uma ponte entre a ideia e a realidade.
2 – A visão técnica/artística é tão importante quanto a habilidade de gestão?
Marcella Leite:
Com certeza. A sensibilidade artística é o que dá alma ao trabalho. A gestão, por outro lado, é o que dá corpo. Sem alma, o espetáculo pode até ser eficiente, mas vazio. Sem corpo, ele não acontece.
Na minha trajetória, percebo que os projetos mais potentes são os que conseguem unir essas duas dimensões: aqueles em que a produção respeita e entende a arte, e onde a arte confia na estrutura que a sustenta.
É preciso saber escutar uma coreógrafa e um técnico de palco com o mesmo grau de atenção — porque todos estão construindo juntos.
3 – Qual é, na sua opinião, o maior desafio para a formação de público no Brasil?
Marcella Leite:
Um dos maiores desafios é a falta de continuidade na educação artística. As pessoas não valorizam o que não conhecem, e o acesso à arte, no Brasil, ainda é muito restrito.
Hoje enfrentamos um novo desafio: competir com o entretenimento digital. Por isso, os projetos culturais precisam repensar suas formas de comunicação e engajamento. Precisamos falar a língua do público, sem abrir mão da profundidade.
Com olhar apurado e discurso afiado, Marcella Leite revela o quanto a arte depende de pontes sólidas entre criação e estrutura. Seu trabalho nos bastidores é um lembrete de que, para que a magia aconteça no palco, é preciso muito mais do que talento: é preciso visão, escuta e conexão entre todos que fazem parte do espetáculo.